"Da caminhada à maratona"é o que se pode ler em todas as camisas da MD.

Iniciei minha participação na MD no dia 20 de Janeiro de 2013. A Carla fez a minha inscrição para corrida de São Sebastião. Eu era sedentária do tipo que pegava o carro para ir à padaria que ficava a 300m da minha casa.
Quando a corrida iniciou eu comecei a ?trotar? e achava que estava tranquilo, que logo iria acabar depois de 10 minutos me senti extremamente cansada, mas feliz porque na minha cabeça já estava chegando, foi quando eu vi a placa de 1km. Pensei "Porraann ainda faltam 4km disso?" Foi ai que nasceu o primeiro ?eu não sei como vou conseguir?. Caminhei, trotei, caminhei, senti a perna coçar, o braço arder, senti vontade de matar a Carla. Quando cheguei e recebi a medalha senti uma sensação estranha...Esqueci de tudo que foi difícil e queria fazer outra. Entrei para equipe no mesmo dia. Eu iria começar a caminhar. No final de semana pós corrida, eu estava acordando de madrugada no domingo para ir treinar. No caminho eu só pensava na minha cama e na minha família que tinha deixado dormindo. E assim eu continuei participando dos treinos, mesmo com pouco tempo tentava treinar durante a semana, mas não me dedicava. Minha participação assídua no final de semana, chamou atenção do Alex que acabou se apaixonando também pela corrida.
No mesmo ano a Carla e o Bruno fariam suas estreias na Maratona. Eu achava coisa de louco aqueles treinos. Fui no treinão de Grumari, o famoso dia D. Eu estava treinando para Family. Fiquei até o final esperando os meus amigos, eles estavam exaustos e felizes, pensei que estivessem usando drogas.
E chegou o dia 07/07/2013 (Maratona, Meia e Family). Foi a primeira corrida que o Alex participou e a primeira que nós 3 participamos juntos. Foi mágico. 
Terminei a corrida e fui para tenda esperar minha equipe. Que coisa linda, participar daquela festa. Se um dia eu não conseguir correr eu ainda participarei da festa. 
André chegou da maratona e mostrou a nossa pulseira. Um mês antes tínhamos participado da corrida da MD de revezamento e formamos um grupo (Eu, Lu e André), a pulseira representava o nosso grupo e ele carregou durante a maratona. Aquele gesto foi tão inspirador, não sei nem se ele tem ideia. Depois ele mostrou a foto de quando participou da Family e estava gordinho. Disse que passou pela Family, Meia e Maratona e que eu passaria por isso também. Lembro que na hora pensei "eu nunca vou conseguir terminar uma maratona". Autoestima me faltava. 
A Carla chegou feliz e serelepe, foi lindo de vê. Nos abraçamos e foi a primeira vez que vi a Carlinha chorar. Ficamos aguardando o Bruno, que contrariando recomendações médicas e dos profissionais, foi correr mesmo estando lesionado. Meu amigo é sempre muito contido, mas naquele dia eu o vi secar o suor que caia dos olhos. Foi lindo ver toda a superação. 
O dia 07/07/2013 foi uma inspiração, eu queria fazer uma meia maratona algum dia. Na semana seguinte eu estava inscrita na minha primeira prova de 10km. Que coisa difícil. No caminho encontrei a Ana Paula e ela me levou. Noemi e Carla esperaram mais a frente e a grupo foi aumentando. A Marcia fez parte do pelotão, ela ainda não era da equipe. A corrida era feminina e os meninos estavam fazendo seus treinos, mas no km final o Elias e o Moraes se juntaram ao pelotão. Fizeram uma corrente e me levaram até a linha de chegada. Que carinho. Como desistir com um grupo desses?
E assim eu segui, participar dos treinos no final de semana e das corridas sempre foi muito prazeroso, mas treinar durante a semana era muito difícil. Meus compromissos profissionais e pessoais sempre estavam na frente. 
Mas mantive o objetivo de fazer meia-maratona. No dia 27/07/2014 o medo me consumia. Comecei a correr e depois de tomar o primeiro gel senti dor de barriga, tive que ir ao banheiro algumas vezes durante a corrida. Mas lembro da sensação de lição aprendida e dever cumprido quando passei pelo pórtico de chegada. Foi o ano que Alex fez a Maratona, eu fiz a Meia e a filhaLinda (Bianca) fez a Family.
Quando eu vi a Marcela chegar da Maratona me despertou uma vontade louca de um dia fazer uma. Um dia, mas esse dia não seria em 2015 porque eu estava acima do peso e não me sentia capaz de ficar tanto tempo correndo/trotando/caminhando que seja. Concluir uma maratona não era algo que eu conseguiria.
Em Janeiro comecei a sentir dores estranhas e fui fazer vários exames. Quando peguei o resultado dos exames achei que estivesse muito doente. Não conseguia falar com o meu médico e pirei. 
Os pensamentos mais imediatos: Como isso vai afetar minha família? Agora mesmo que eu não vou conseguir fazer uma maratona.
Depois de sair do médico, aliviada por saber que não era nada do que eu tinha lido (buscar um profissional e não o google virou um mantra), decidi fazer a Maratona. Mandei mensagem para o Marcelo, já tinha me inscrito na meia maratona e pedi para ele mudar para Maratona. Ele foi sincero, disse que não seria o amigão e que se eu quisesse fazer a Maratona teria que me dedicar o triplo. E assim eu iniciei o projeto Maratona. 
Passei a treinar seguindo a planilha, fazendo tudo bonitinho, como diz aEliane
Musculação, esteira, asfalto , musculação, transport, descanso. Segui tudo, mesmo tendo que sair da academia 23hs(né Thiago) e ainda estar disposta para jantar. A confiança foi crescendo.
Para conhecer uma parte do percurso me inscrevi na prova de 21km da Asics. Prova rápida que eu achava que deveria fazer quando atingisse o pace x. Eu fiz a prova com um tempo pior que a meia de 2014, eu treinei tanto para fazer pior? Minha confiança foi abalada. Os treinos ficaram chatos eu fazia para ter disciplina, mas não sentia confiança no que fazia. Marcelo foi mais que treinador neste momento, sempre tentando resgatar a minha confiança. 
Eu evitava falar que ia fazer maratona, ou sempre falava com vergonha. Porque na minha cabeça eu ainda não era capaz, só tinha vontade, muita vontade. Minha preocupação era o treino de Grumari. O dia D. 
Sair de Grumari e chegar até a Barra, comer a tangerina do Marcos e voltar era o que eu mais queria. Mas não foi assim. O ideal era fazer a ida em até 2:15 para dar tempo de voltar. Eu fiz duas paradas na ida. Uma quando encontrei um amigo (Regis querendo minha inscrição, seu feio) e a outra para falar com um casal de idosos que me perguntou o porquê eu estava correndo (ainda não sei cortar as pessoas no meio do treino). Quando olhei para o cronometro já tinha dado 2:15 e eu estava no KM 16. O que fiz foi sentar e mandar mensagens de voz desesperada para Carla. No dia do treinão estava tendo prova de triatlo no Recreio e a rua estava interditada, o que me impedia de pegar um taxi e voltar para Grumari . Eu teria que voltar de qualquer forma. A Vivi me encontrou na volta e falou para eu ir devagar que a energia iria voltar. Eu voltei trotando, chorando, xingando, caminhando, merda tinha treinado tanto e não iria conseguir terminar. Frustração. Encontrei o Alex e ele me passou os ensinamentos do Bruno (e a tangerina do Marcos). Parei alonguei, a energia estava voltando, que coisa louca é essa? Voltei a trotar, e consegui terminar o treinão. Não fiz os 35km proposto, fiz 32 e não comi a tangerina do Marcos, comi a tangerina que o Marcos tinha mandado para mim, tinha outro sabor (mas salvou tá, eu estava com fome). 
Então fui analisar o que senti no treinão. Onde foi que doeu? Não sabia responder. Não tinha sentido nenhuma dor, joelho, tornozelo, nada... eu cumpri a planilha. O Marcelo me preparou fisicamente para aguentar tudo o que fiz. O problema era dominar os pensamentos negativos.
E chegou o almoço de massas e entrega do kit. Quando recebi o kit da maratona paralisei por alguns segundos. Não consegui comer direito, estava muito nervosa. À noite Marcelo me ligou e disse que a prova tinha sido cancelada, antes de ouvir algum palavrão ele desfez a brincadeira, falou para achar um ritmo confortável e aproveitar a prova. Fui deitar (pq dormir não deu) e estabeleci comigo que este não seria um dia para pensamentos destrutivos. Nada poderia atrapalhar. Eu sou muito firme nos meus acordos.
Eu já tinha me preparado para correr 42,195km, eu só tinha que aproveitar o dia. Eu e Alex fomos em direção à largada para pegar o ônibus. Encontramos o Felipe, um grande amigo que se apaixonou pelo bem estar da corrida e topou o desafio de correr a maratona um mês antes (mas ele já treinava pesado). Pegamos o ônibus e o caminho estava estranho até que perguntaram se alguém sabia o caminho, se tinha alguém do Rio de Janeiro para ensinar o caminho para o motorista. E foi o Alex virar gps. Pensei que não fossemos chegar a tempo, tenso, mas eu tinha feito um acordo não podia pensar que algo iria dar errado. Fechei os olhos, contei os gés, verifiquei os quitutes do bolso, coloquei uma musica do playlist que a Bianca(te amo) fez, fechei os olhos e esperei chegar. Chegamos atrasados para encontrar com os MDs no guarda volumes e tirar foto. Ok, tiro foto na chegada. Meus sogros estavam na largada. Mais carinho, sei como é difícil para eles acordar aquela hora (vovó Celia Regina e vovô Acyr). 
E foi dada a largada, 50 metros e a Eliane deixa o gel cair, eu abaixei para pegar e o corredor q vinha atrás me deu uma trombada, fiz uma posição estranha e fingi que era Pilates ( lembrei da Fabricia) levantei e continuei a fazer o aquecimento. Passei pelo vô e pela vó, recebi beijinhos no ar. O Alex sempre do meu lado (não só na corrida). Eu pedi para ele: faz o seu não me acompanha. Alex tinha feito uma cirurgia no final de fevereiro e só voltou a treinar no final de maio. Ele tinha a superação dele e eu a minha. E depois de um beijo ele disse: ?então eu vou, fica tranquila e aproveita?. E assim eu vi o meu magrelo correndo para fazer o dele. Tenho sorte de estar casada com a pessoa que mais admiro, poderia ficar horas falando sobre ele, mas vou economizar linhas. 
Continuei a correr. Marcelo durante os treinos, tinha recomendado fazer a primeira parte em até 2:30. Quando entrei na reserva parecia que nunca iria acabar, comecei a ficar neura com o tempo. Mas antes de pirar, lembrei do acordo. Coloquei os óculos e dei play na musica. Olhei para lagoa, olhei para a praia, lagoa/ praia, lagoa /praia. Cheguei na Barra, queria chegar até o posto 5 e ver um rosto MD amigo. Cheguei no posto 5 faltava pouco para terminar a primeira parte. Mas não achei o Mothé onde ele tinha indicado. Por um minuto pensei que eu era tão lenta que o Mothé achou que eu tinha desistido, mas depois disso (desculpa Mothé) eu preferi considerar que ele tinha bebido muito no dia anterior e que estava com dor de barriga. Naquele momento eu ri e continuei. Terminei a primeira parte da corrida 21km em 02:38, meu último tempo nessa distancia foi 3:02, melhorei bastante, mas tinha passado do tempo que o Marcelo recomendou. Antes de desanimar, conversei comigo e falei que o tempo do Marcelo não era o meu tempo e que 8 minutos não poderia comprometer meu objetivo. Comecei a sentir um incomodo da cinta cardíaca me cortando a pele.
Eu uso a cinta cardíaca, porque tenho medo, minha mãe tinha problemas cardíacos e faleceu dormindo. A cinta me limita, toda vez que os batimentos saem do padrão eu diminuo/paro. Mesmo sabendo que não tem nada de errado comigo, meus exames estão em dia, eu continuo a usar. Esse medo já tinha me abandonado, mas depois do acidente com o corredor na prova da Asics, o medo voltou. 
Continuei a correr com aquele incomodo. No final da Barra, avistei um rosto amigo. Mothé não tinha me abandonado. Estava ele lá para arrancar um sorriso. Não lembro de ficar tão feliz por saber que alguém não estava com dor de barriga. Muito obrigada Mothé.
Depois de ver o Mothé, tirei a cinta. Já tinha passado 21km e nas minhas contas eu tinha 3:22 para completar a outra parte. Era só continuar a curti. Quando passei no túnel do Joa estavam tirando as parafernálias que vi na meia maratona do ano passado. Sabia que era um momento bem divertido da corrida, mas para quem fez a maratona não tinha nada. Eu estava muito disposta a fazer o meu momento. Comecei a gritar no túnel, sozinha. No meu playlist tocava ?Eu quero ver o oco? (Bianca te amo) e eu fui cantar alto e alguns staffs cantaram também. Não deu nem para desanimar. Muito antes do que eu imaginava já estava entrando em São Conrado. E antes de subir a Niemeyer senti um incomodo no ombro, passei a movimentar o braço de uma forma diferente e esqueci o incomodo. No Leblon encontrei o Labela, ele estava sentido dores. brinquei com ele e falei que tinha o Gabriel e umas cervejas esperando por ele. Continuei trotando até encontrar o Renato. Nem consigo representar em palavras o que foi aquele abraço. Renato me perguntou se sentia alguma dor e eu lembrei do ombro. Foi o spray magico trabalhar, passei também na panturrilha e na perna só para garantir. Peguei meu copo de coca, ouvi as recomendações do Renato e segui. Antes de entrar na Orla de Copacabana, pensei no meu grande amigo Raul que sempre me incentiva e me ensina tanto sobre a vida. E como um passe de mágica ele aparece na minha frente. Que felicidade encontrar as pessoas que amamos sem nem precisar fazer uma ligação. Raul e Alexandra, vocês não tem ideia da quantidade de amor envolvido no nosso encontro. Segui. Percebi que a orla de Copacabana é gigante. Comecei a caminhar com mais frequência, olhei para o lado tinha uma bicicleta me seguindo. Era o Renato fazendo hora extra para o meu anjo da guarda. Acabou a orla de Copacabana, encontrei o Marcelo de bicicleta. Ahh será que precisa descrever o que é encontrar o Marcelo quase no final da corrida? Marcelo é o pai zeloso que se irrita com os deslizes de seus filhos e expressa um sorriso de criança quando vê um filho feliz. Muito obrigada, pai chato, treinador incrível.
Encontrei também gentleman Elias e o seu sorriso calmo, ele foi ser o batedor do Labela. Esse cara tem uma vibe tão positiva que só podia ter acontecido aquilo que eu vi. Labela passou como um foguete com o seu batedor, as dores pareciam ter desaparecido. Superação e solidariedade, coisa dos MDs.
Eu estava alternando entre o trote e a caminhada, meu anjo da guarda veio conversando comigo e tirando fotos. Sempre que alguém gritava que faltava pouco, ele falava: "faltam 195 metros". Entrei no corredor final, minha família MD estava me esperando fazendo a festa. Passei por aqueles que torcem por mim, coisa mais rock roll, clichê, mas a verdade é que amo esse grupo. Para descrever o carinho individualmente, eu teria que escrever um livro. Muito obrigada família MD e amigos (Rose obrigada pelo incentivo constante).
FilhaLinda Bianca veio correr comigo ganhei um beijo da menina que me escolheu para ser sua mãe, falei para ela ficar que eu ia terminar a corrida. Alex tentou me acompanhar, ganhei um beijo e pedi para ele ficar. Eu tinha que passar no pórtico sozinha. Trabalhei muito para fazer o dia 26/07/2015 ser incrível, e consegui. Aproveitei cada passo, cada minuto. Na descrição da minha meta no site da MD estava: Terminar a Maratona dentro do tempo estabelecido pela organização sem morrer. Meta conquistada.

Minha mãe sempre me pediu para praticar exercício físico, cuidar da minha saúde, trabalhar menos. Ela sabia das consequências que uma vida sedentária poderia causar. Eu podia fazer isso tendo como meta um tempo melhor na Family ou na Meia, tentar ter um pace mais "padrão de corredor", mas o impossível na minha cabeça sempre foi completar uma Maratona. Foi treinando para Maratona que aprendi a ter disciplina, a me alimentar melhor e me tratar como prioridade. 
No final do dia quando consegui tirar um cochilo veio o meu maior presente, sonhei que minha mãe me esperava na linha de chegada. Ganhei um cheirinho e um beijinho dela. Ficamos nos abraçando por um longo período. Será que foi tudo um sonho?